Os primórdios da pós-graduação em contabilidade e o início do PPGCC
• Adaptado do livro Contando História: o Departamento de Contabilidade e Atuária–FEA/USP entre números e palavras. / Organização: Suzana Lopes Salgado Ribeiro -- 1. ed. -- São Paulo: D’Escrever Editora, 2009.
No início da década de 1970, o debate sobre a criação do programa de pós-graduação foi envolto em um debate acadêmico que se polarizava na opinião de dois grupos no Departamento de Contabilidade e Atuária (EAC) da FEA/USP. Um grupo defendia que o curso de mestrado, recém regulamentado na Universidade de São Paulo, deveria se estender à área de Contabilidade depois da criação de condições como: grande dedicação de docentes e discentes; professores com formação no exterior; ligação e acesso aos centros estrangeiros de excelência. Outro grupo, mais pragmático, considerava que, mesmo válida, tal proposta era inacessível e advogava a favor do início do mestrado, enfrentando as limitações e as superando com o tempo. Até então, a pós-graduação existia apenas em nível de doutoramento e funcionava de forma muito diferente da atual. [...] Não era um curso estruturado com disciplinas sistematicamente oferecidas. A ligação era feita por meio da aceitação do orientador. Os professores ofereciam disciplinas de sua responsabilidade e indicavam outros docentes para disciplinas subsidiárias. Todo esse estudo era desenvolvido na interação pessoal entre professores e alunos, que estabeleciam de forma individual suas dinâmicas e metodologias de trabalho, sem classes ou aulas. Como explicou o professor Eliseu Martins:
Iniciativa importante para a história do Departamento no sentido de consolidar o ensino e a pesquisa foi a consolidação do plano de criação do curso de mestrado, no segundo semestre de 1970. O grupo que defendia o início imediato do curso de mestrado ganhara a disputa que tinha se instalado. Sob a coordenação do Professor Hirondel Simões Lüders e a chefia do Departamento nas mãos de Antonio Peres Rodrigues, iniciava-se o Mestrado em Contabilidade. As primeiras disciplinas oferecidas foram: Matemática Financeira, ministrada pelo professor Antonio Pereira do Amaral; Teoria Contábil do Lucro, criada pelo professor Sérgio de Iudícibus; e Contabilidade Decisorial, organizada pelo professor Alkindar de Toledo Ramos.
A internacionalização da formação de professores foi se consolidando progressivamente. Destaca-se neste período inicial a realização do mestrado de Stephen Charles Kanitz na Universidade de Harvard. E também os estágios realizados com a então Coopers & Lybrand, pelos professores Sérgio de Iudícibus e Eliseu Martins, durante o ano de 1971, nos EUA. Com a aprovação do mestrado, alunos como Masayuki Nakagawa puderam iniciar sua pós-graduação:
Enquanto isso, titularam-se como mestres os professores do EAC: Wlademiro Standersky (1975), Antonio de Loureiro Gil (1976), Masayuki Nakagawa (1976), Cecília Akemi Kobata Chinen (1976), Massanori Monobe (1976), Sérgio Rodrigues Bio (1976), Lázaro Plácido Lisboa (1976) e José Rafael Guagliardi (1977). Ainda em 1977, o então bolsista do Banco Central Iran Siqueira Lima conquistou seu título de mestre após uma seleção nada simples, que foi narrada por ele nas seguintes palavras:
O novo sistema de Pós-Graduação stricto sensu foi implementado no Departamento de Contabilidade e Atuária em 1970, tendo a seleção de alunos feita em 1971. Sua filosofia era formar professores-pesquisadores e qualificar pessoal para a atuação profissional. Esses dois objetivos funcionavam e funcionam de forma complementar, posto que o desenvolvimento do mercado exigia uma melhor formação profissional. Desta forma, era preciso também ter professores mais qualificados.
Com isso, a pós-graduação ganha importância e o grupo de professores que formavam o Departamento passam a influenciar o pensamento contábil brasileiro, por meio de sua atuação profissional, de suas publicações, e também por formar novas gerações de contadores que passavam a, na Universidade de São Paulo, diferenciar seus currículos e melhorar sua formação cursando o único mestrado existente na área de Contabilidade.
O mestrado do Departamento acabou por se concentrar no que se denomina Contabilidade Gerencial e Contabilidade Societária. Na primeira área de concentração destaca-se uma parte aplicativa e gerencial, permitindo ao profissional e pesquisador possuir habilidade de analisar informações e utilizar todo o potencial que a Contabilidade oferece. Na segunda, dá-se atenção especial aos princípios fundamentais da Contabilidade e sua teoria. Nesse campo, a Contabilidade se apresenta como elo entre instituição e usuário externo, envolvendo o estudo de legislação a respeito, além de formas de avaliação, técnicas de análise e projeção.
Mais recentemente, destaca-se na pós-graduação o desenvolvimento das técnicas quantitativas, desenvolvimento tal que por vezes é criticado, como ocorre na fala do professor Sérgio de Iudícibus.
Como todas essas frentes caminhavam de forma a se complementarem, os estudantes de pós-graduação oriundos de diversas partes do Brasil podiam estudar em livros que vinham sendo publicados pelos próprios docentes, de modo a ampliar o vínculo com a realidade contemporânea do país e a aplicabilidade do conhecimento produzido em sala de aula.